top of page
Buscar

Milho Brasileiro: Demanda Aquecida Interna Desafia a Paridade de Exportação

O mercado de milho no Brasil tem apresentado um cenário peculiar nos últimos tempos.

Foto: Lavoura de milho, com espiga e gráfico. Gerado por Gemini
Foto: Lavoura de milho, com espiga e gráfico. Gerado por Gemini

Contrariando a lógica tradicional de paridade com os preços internacionais, especialmente os da Bolsa de Chicago (CBOT), o preço interno do cereal tem se mantido consistentemente acima do patamar que viabilizaria negócios de exportação. Essa dinâmica, impulsionada por uma série de fatores complexos, merece uma análise aprofundada para compreendermos as perspectivas e os desafios para os diferentes agentes da cadeia produtiva.


Fatores que sustentam os preços internos elevados:


Diversos elementos têm contribuído para essa valorização do milho no mercado doméstico:


  1. Demanda interna robusta: O apetite interno por milho tem crescido significativamente. A expansão do setor de proteína animal, tanto para consumo interno quanto para exportação, impulsiona a demanda por ração. Adicionalmente, um fator de grande impacto é a crescente produção de etanol de milho em larga escala no Brasil. Essa nova fronteira de consumo tem exercido pressão considerável sobre a oferta interna do cereal.

  2. Dinâmica dos preços em Chicago: A referência internacional para o milho, a CBOT, tem influencia direta através das expectativas de uma safra americana robusta. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) tem indicado um aumento na área plantada de milho em detrimento da soja, o que, em condições climáticas favoráveis, pode levar a uma maior produção e, consequentemente, exercer pressão baixista sobre os preços futuros em Chicago. Essa expectativa dificulta a competitividade do milho brasileiro no mercado internacional, uma vez que os compradores estrangeiros se baseiam nesses preços de referência.

  3. Custos portuários em ascensão: O aumento dos custos operacionais nos portos brasileiros também impacta a competitividade do milho nacional. Taxas portuárias elevadas, devido ao aumento do tempo de espera na fila, gerando demurrage, encarecem a operação de exportação, tornando o produto brasileiro menos atrativo para compradores internacionais que buscam margens mais apertadas.

  4. Gargalos logísticos persistentes: A infraestrutura logística brasileira enfrenta desafios significativos. A alta demanda por transporte interno, especialmente em períodos de pico de safra, eleva os custos de frete, corroendo as margens dos exportadores. Além disso, a retenção de cargas nos portos, seja por questões burocráticas ou operacionais (espaços e estrutura limitada), contribui para a redução dos prêmios de exportação, desincentivando as vendas externas.

  5. Cenário cambial instável: A taxa de câmbio, um fator crucial nas operações de comércio exterior, tem apresentado um viés de baixa em função de fatores como a guerra tarifária global e fluxos de capital. Um real valorizado torna as commodities brasileiras mais caras para compradores que utilizam outras moedas, dificultando ainda mais a equiparação com os preços de Chicago.


Implicações e perspectivas:


Esse cenário de preços internos descolados da paridade de exportação traz implicações importantes para diversos atores:


  • Produtores: Podem se beneficiar da demanda interna aquecida, garantindo melhores preços para sua produção no mercado doméstico. No entanto, ficam mais dependentes desse mercado e podem perder oportunidades de exportação em momentos de alta produção.

  • Indústrias (Ração e Etanol): Enfrentam custos mais elevados na aquisição da matéria-prima, o que pode impactar seus custos de produção e, eventualmente, o preço final de seus produtos.

  • Exportadores: Têm dificuldades em competir no mercado internacional, vendo suas margens serem comprimidas pelos altos custos internos e pela menor atratividade do preço em dólar.

  • Consumidores: Podem sentir o impacto dos preços mais altos do milho nos preços de produtos como carnes, ovos e etanol.


No decorrer da safra 2024/2025, a sustentabilidade desse cenário dependerá da interação de fatores, tais como: a evolução da produção americana, o clima, a capacidade do Brasil de otimizar sua logística, a estabilidade cambial e o ritmo de crescimento da demanda interna (especialmente do setor de etanol), cujos fatores serão determinantes para a direção dos preços do milho no país.


Resumidamente, o mercado de milho brasileiro vive um momento atípico, com a demanda interna ditando o ritmo dos preços e desafiando a tradicional paridade com o mercado internacional.


Ao compreender os fatores que impulsionam essa dinâmica de mercado, será fundamental para produtores, indústrias e o mercado tomarem decisões estratégicas, através do acompanhamento atento das variáveis econômicas e agrícolas que será crucial para antecipar tendências, gerar resultados e mitigar riscos em um mercado mais influenciado por particularidades domésticas.



 
 
 

Comments


Logomarca da Rio Grande Agricola

CEP 90.430-001, sob n. 777, sala 1401.

Bairro Rio Branco, Porto Alegre, RS, Brasil,

© Copyright RGA's 2024
bottom of page