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Milho e o mercado chinês: chegou a hora de fazer seu hedge!

Porto Alegre - RS - Brasil - 20231024

Gráfico 1 - Fonte: Banco de dados da Rio Grande Agricola e informações coletadas da CBOT e DCE.


As análises e as notícias do mercado de milho nesta semana não são muito favoráveis ao mercado brasileiro, especialmente depois que a bolsa de Dalian teve seus preços despencando para os atuais níveis, mas, o que mais nos surpreendeu foi evidenciar que os indicadores da bolsa de Dalian são otimistas, com preços completamente estáveis ao longo dos próximos meses, gerando contradição em relação aos últimos prêmios noticiados, os quais, são reveladores para com a verdadeira intenção e apetite de compra da China.


Iniciando nossa análise:


Cotação do milho em Dalian - China, Preços do milho em Dalian
Cotação milho: Preços do milho praticados na bolsa de Dalian, na China

Gráfico 2 - Fonte: Base de dados da Rio Grande Agricola, extraídos da bolsa de Dalian - China.


Legenda: Barra azul: cotação do milho em RMB.

Linha laranja: preço em RMB convertido em dólares.

Linha cinza: preço em RMB menos impostos, despesas portuárias e seguro convertidos em dólares.


Primeiro, necessitarmos olhar para os preços praticados em Dalian, a fim entendermos o que ocorre no mercado interno da China, onde, nota-se uma curva levemente crescente nos preços ao longo dos próximos meses, que, mesmo após as grandes quedas ocorridas entre agosto e setembro, mantém-se positiva, inclusive, ao compararmos com o renminbi, notamos que a moeda tem curva de valorização gradativa ao longo de 2024, o que faz um ajuste inverso nos preços, tornando-se a valorização da moeda chinesa importante para a correção dos preços em dólares e, adicionalmente, Dalian mantém viés de alta ao longo de 2024, pelo menos até seu último vencimento, em setembro de 2024. O gráfico acima demonstra este cálculo.


Portanto, olhando o cenário acima, seria muito simples e fácil de prever que estamos em momento de estabilidade de preços e o poder de compra da moeda Chinesa propicia leves aumentos, em dólares, nos preços internos ao longo de 2024 (quanto mais forte o RMB, mais dólares necessita-se para comprar o milho, até que o poder de compra da moeda reverta o preço na bolsa forçando sua queda).


Os indicadores de produção na safra 2023/2024


Em nosso último Relatório de Oferta e Demanda do USDA, evidenciamos que a produção mundial do cereal será de 1.214,47 milhões de toneladas e os estoques finais tenderão a ser 312,40 milhões de toneladas. Já o Brasil, irá produzir aproximadamente 129 milhões de toneladas, contra 55 milhões da Argentina, que passa a ofertar mais produto em relação a 2023, cuja oferta do produto na safra 2022/2023, foi escassa, devido a grave estiagem ocorrida no Sul do Brasil e Argentina. As estimativas de produção da China ficarão em torno de 277 milhões de toneladas, podendo chegar em 280 milhões de toneladas, já os Estados Unidos, com safra 2023/2024 praticamente consolidada, com uma produção de 382,65 milhões de toneladas.


O cenário indica que haverá um excesso de oferta do produto, especialmente com o aumento da produção da Argentina e o Brasil continuando a produzir grandes volumes, da mesma forma.



Indicadores do mercado interno:


Gráfico 3 - Fonte: Banco de dados da Rio Grande Agricola e informações coletadas da CBOT e mercado.


No gráfico acima mostramos os preços com base em Chicago (CBOT) adicionados a intenção de venda para o mercado brasileiro e, levando em consideração que os prêmios caíram consideravelmente nos primeiros dias do mês de outubro, com ligeira recuperação nesta semana, já se percebe que o mercado tende a se adequar aos preços ofertados pelo comprador, levando a uma retenção da oferta claramente evidenciada nos últimos dias no Brasil, gerando uma consequente escassez de negócios no mercado do milho.


Mesmo olhando o mercado internacional, os prêmios do milho praticados no Brasil são elevados, se comparado ao cenário que passaremos a estudar no próximo tópico.


Indicadores do mercado Chinês:


Tabela 1 - Fonte: Banco de dados da Rio Grande Agricola e informações coletadas da CBOT e mercado.


Na tabela acima mostramos os preços com base em Chicago (CBOT) adicionados a intenção de compra por parte da China, ou seja, adicionados aos prêmios CFR ofertados pelo comprador Chinês, notamos que os prêmios ofertados caem drasticamente a partir de fevereiro, gerando um grave viés negativo na cotações do cereal para 2024.


Se este indicativo de mercado estiver correto, então, passaremos a ter uma falta de apetite de compra da parte da China, saindo do mercado brasileiro e optando por outros mercados, tais como: Ucrânia, Argentina e Estados Unidos.


Além disso, a bolsa de Dalian, tenderá a se auto regular no decorrer dos próximos dias, semanas, talvez meses, porque é comum os Traders chineses observarem o mercado ao longo de seis meses, ajustando suas compras e preços. Neste momento, entendemos que o comprador Chinês está esperando a melhor oportunidade de compra do milho para dar início ao ciclo de compras 2023/2024, considerando que a China deverá importar em torno de 23 milhões do toneladas do cereal.


Concluindo nossa análise no gráfico numero 1:


Ao confrontarmos os preços CFR com base na bolsa de Dalian (Gráfico 1: linha vermelha - Dalian, convertido em dólares, menos despesas, menos impostos, menos seguro), notamos que a bolsa segue uma tendência mais altista que a real oferta de prêmios (em amarelo), onde adicionados ao preço da CBOT obtemos um preço CFR ajustado pela demanda chinesa (gráfico 1: resultado é a linha azul escura, onde o preço CFR ajustado por CBOT + prêmio chinês) em valores abaixo do esperado pelo mercado brasileiro e, em seguida, reduzindo-se 40 USD referente ao valor do frete, obtém-se o preço FOB estimado a ser pago ao mercado brasileiro (gráfico 1: linha azul clara - CBOT + prêmio chinês - frete), segundo a intenção de compra chinesa.


Ao compararmos e cruzarmos estes dados (gráfico 1) com os prêmios praticados no Brasil adicionados de CBOT (gráfico 1 - barra verde CFR e barra laranja FOB e o gráfico 3 com os mesmos indicadores já isolados) encontramos uma verdadeira anomalia e uma interrogação que deve ser observada atentamente, a partir de agora, e, diariamente, porque os movimentos da bolsa de Dalian poderão ditar se os preços caem ou se manterão, portanto, teremos que redobrar a atenção para estes indicadores.


Entendemos, portanto, que estando correto este cálculo e estimativa de prêmios ofertados pelo mercado comprador chinês, teremos uma forte queda nos preços internos brasileiros, especialmente se ficarmos dependentes do mercado chinês para a compra do milho brasileiro, o que não ocorria até 2021. Por outro lado, o Brasil nunca dependeu da China para vender seu milho, logo, teremos que pensar em outros mercados para ofertar nosso produto, ainda que existem cenários que beneficiam o Brasil no mercado internacional, como exemplos: manutenção da guerra entre Rússia e Ucrânia, prejudicando a exportação da Ucrânia, reduzindo a oferta do produto, inclusive para a Europa; menor apetite de venda dos Estados Unidos, devido a redução dos estoques e menor safra; um novo cenário de guerra no Oriente Médio gerando incertezas e aumentando o apetite de compra de países do entorno, sendo isto já evidente nos pedidos de açúcar e milho.


E porque a China oferta prêmios menores? Porque os preços nos Estados Unidos e Ucrânia começam a ficar mais competitivos que os preços brasileiros, ademais ainda falta entrar a Argentina, que pretende injetar mais 41 milhões de toneladas no cenário de venda internacional para a safra 2023/2024.


O ponto principal de atenção será a possibilidade de ocorrência da desvalorização do produto no mercado internacional devido ao excesso de oferta, por conta de mais uma grande safra, portanto, os preços FOB no Brasil, tenderão a cair a níveis abaixo de 200,00 USD por tonelada (conforme tabela 1), o que gerará novas perdas históricas de receitas para o mercado brasileiro, sendo que esta conta está evidenciada no gráfico 1 e na tabela 1, chegando as perdas a variar entre 45 USD a 80 USD por tonelada.


Logo, buscando entender a dinâmica do mercado e analisando os riscos, o produtor e as empresas brasileiras devem ficar atentos e, de preferência fixar posições de venda para a safra 2023/2024, consultando especialistas e analisando o mercado interno e externo, buscando fazer "hedge" para seu produto, evitando perdas em larga escala como esta que se evidencia no cenário de compra e venda do mercado chinês e internacional.

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