Porto Alegre - RS - Brasil - 20230818
Fonte: base de dados da RGA.
Os preços do milho brasileiro estão chegando na China com valores altamente competitivos para o mercado interno chinês, se comparado o preço interno menos despesas e impostos. Considerando os custos internos brasileiros, frete e a oscilação das moedas, os preços brasileiros podem chegar na China com uma vantagem de US$ 40,00 a US$ 50,00.
Entendendo o mercado Chinês
A Bolsa de Dalian dita os preços internos na China e diariamente divulga os preços locais, com o volume de negociações e os preços em Yuan (RMB). Geralmente estes preços são carregados pelos custos de compra (importação) e comparados com a demanda interna, bem como, o preços dos insumos e rações e, consequentemente dos alimentos. Notadamente, um dos fatores que pode estar influenciando estes preços é a desvalorização da moeda Chinesa que nos últimos meses , entre 7% e 7,5%.
Outra situação que indica preocupação, são as condições climáticas no nordeste da China - esta região é a zona de produção mais significativa para o milho chinês. No início do ano, houve chuvas pontuais que criaram um déficit de umidade. No entanto, a principal preocupação são as temperaturas acima do normal que persistem por um período significativo de tempo. Já nos últimos dias, a China sofreu inundação com a chegada de um super tufão, que atingiu as regiões produtoras de milho e arroz, inundando grande volume de áreas, indicando uma potencial perda na produção de aproximadamente 5 milhões de toneladas de milho, ou seja, o potencial de produção chinês pode ser comprometido pelas condições prevalecentes.
Outro fator determinante é de que a safra de trigo da China foi impactada por chuvas excessivas na colheita. Isso reduziu um pouco o rendimento e teve um maior impacto maior na qualidade, portanto, mais trigo poderá cair na categoria de rações e compensará a potencial menor produção de milho.
O USDA está prevendo a produção chinesa de milho em 2023-24 em 280 milhões de toneladas, um novo recorde, mas ainda existem dúvidas se foram computadas as perdas provocadas pelo super tufão que atingiu o continente neste mês, sendo provável que teremos mais ajustes nos informativos do mês de setembro. As importações estão previstas em 23 milhões de toneladas, um aumento de 5 milhões de toneladas em relação a 2022-23.
A China, por outro lado, tem sido um benfeitor significativo da Iniciativa de Grãos do Mar Negro (o acordo da Rússia, ONU, Turquia e Ucrânia para permitir a passagem de grãos ucranianos), logo, a China tem sido o maior mercado para o milho ucraniano. A continuação do acordo parece tênue. A Ucrânia pode não conseguir igualar os volumes de exportação de 2022-23 para a China. Isso sugere que pode haver negócios incrementais tanto para o Brasil quanto para os EUA se a China importar 23 milhões de toneladas em 2023-24.
As circunstâncias climáticas do nordeste da China podem reduzir a safra chinesa de milho. Se houve uma redução de 10 milhões de toneladas, há potencial para exportações chinesas adicionais de milho. A alta constante nos contratos futuros de milho ocorridas no mês de julho para os vencimentos de setembro em Dalian, indicavam que já existiam estas preocupações.
No entanto, sabemos que as importações finais de milho chinês em 2023-24 não serão apenas uma função do mercado, mas também, em função das políticas de importação e o sistema de cotas da China, que desempenharão um papel na determinação dos volumes finais de importação.
Comparativo
O milho brasileiro está longe de estar dentro das bases de cálculo da Bolsa de Chicago (CBOT) e esta disparidade provoca dúvidas para o comprador Chinês, talvez por isto que os negócios andam sempre travados, porque o mundo acostumou o Chinês comprar com base nos preços da CBOT. Então, os fundamentos mudaram? Sim, existe muita pressão interna nos custos portuários e custos de frete, especialmente devido a elevada demanda dos serviços, em ambos casos (portos e fretes), descasando com o prêmio habitual calculado pelos analistas (prêmio = preço da bolsa menos preço no interior e/ou prêmio = preço ao produtor "americano" - CBOT + mais custos até o navio - menos eficiência logística e portuária).
Por quê existe o descasamento? Porque se descontarmos o preço da bolsa menos os custos portuários, que estão maiores neste ano, com aumento na espera das embarcações e, ainda, a ineficiência logística, o produtor de Estados como o Mato Grosso teria preços abaixo de R$ 30,00 a saca, o que seria praticamente uma venda à custo ou prejuízo, logo, quem pode esperar e vender a preço melhor deixa e ofertar. Esta pressão faz com que o limite de preços ao produtor fique acima da CBOT e pressionando os prêmios, obrigando os compradores a oferecer mais para fazer seus embarques já programados.
Comparativamente, se atribuirmos um carregamento em Paranaguá, que tem batido recordes de exportação este ano, e a origem for noroeste do Paraná e Mato Grosso, a média de preços chega a R$ 68,00 a saca para um preço FAS porto Paranaguá, mais custos e margens, elevando nossos preços em torno de R$ 5,00 acima da CBOT, o que resulta num prêmio maior de US$ 0,43 por bushel ou aproximadamente US$ 16,75 por tonelada.
No entanto, após calcularmos esta variação de preço, acrescentarmos US$ 5,00 de riscos e mais os custos extras do porto, elevando a condição "Fobis" de US$ 7,00 para US$ 10,00, acrescentar o custo financeiro de 1,5%, chegamos ao preço com zero risco na venda e, os inacreditáveis USS 246,84, conforme tabela acima para vencimento agosto e setembro. Este preço de US$ 246,84 comparando com o preço interno Chinês menos custos e impostos, bem como, o seguro e o frete de US$ 45,00 (elevado para os padrões de contrato e a China geralmente calcula US$ 40,00 como balizador), chegamos ao preço FOB Brasil x China de US$ 287,61, representando US$ 40,77 de economia para o comprador Chinês.
Importante lembrar que existe ainda um custo interno de transporte na China, mas entendemos que a eficiência logística chinesa nos supera em grande escala (hidrovias, ferrovias, estradas de primeiro mundo) para escoar sua produção e compras.
Esta bom de comprar milho do Brasil? Deixe seus comentários.
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