Do Campo ao Tanque: O Papel Estratégico do Óleo de Soja na Nova Era Energética
- Vanderlei Cadore

- 27 de ago.
- 3 min de leitura
Como políticas de biodiesel no Brasil e nos EUA estão transformando o mercado agrícola global.

O óleo de soja, antes considerado um subproduto do esmagamento voltado à produção de farelo para ração animal, tornou-se protagonista em uma nova era energética. A ascensão dos biocombustíveis, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, está transformando silenciosamente a matriz produtiva e comercial da soja.
O Novo Papel do Óleo de Soja
Com o avanço das políticas de combustíveis renováveis, o óleo de soja passou a agregar mais valor por bushel do que nunca. Essa mudança elevou o conceito de “oilshare” — a participação do óleo no valor total do esmagamento — a um novo patamar estratégico. Hoje, o óleo é tão ou mais relevante que o farelo na composição de valor da soja.
Nos EUA, a proposta da EPA para aumentar os volumes obrigatórios de diesel de biomassa para 2026 e 2027 reforça essa tendência. No Brasil, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou a elevação gradual da mistura obrigatória de biodiesel no diesel, que atingirá 15% (B15) em 2026. A partir de agosto de 2025, o percentual já subiu para 15%.
Oilshare nos EUA: Gráficos que Revelam a Nova Dinâmica
Nos Estados Unidos, o conceito de soybean oilshare é amplamente utilizado para medir a participação do óleo de soja no valor total do esmagamento. Essa métrica ganhou relevância com o crescimento da demanda por biocombustíveis e a valorização do óleo frente ao farelo.
Os gráficos disponibilizados pela CME Group ilustram com precisão essa evolução. Eles mostram:
A participação semanal do óleo de soja no valor do complexo soja (Soybean Oilshare Weekly Nearby).
A volatilidade dos preços do óleo e do farelo ao longo do tempo.
O impacto direto das mudanças políticas, como a transição do crédito 40A para o 45Z, sobre a demanda por óleo de soja.
Oilshare no Brasil: Um Indicador em Construção
No Brasil, ainda não existe um indicador oficial equivalente ao soybean oilshare americano. No entanto, é possível acompanhar a evolução da participação do óleo de soja no valor do esmagamento por meio de um quadro comparativo, utilizando dados públicos e privados.
Fontes de monitoramento:
Componente | Fonte sugerida | Frequência |
Preço do óleo de soja | CEPEA / ANP / StoneX | Diário ou semanal |
Preço do farelo de soja | CEPEA / StoneX | Diário ou semanal |
Volume de esmagamento | ABIOVE / ANP / IBGE | Mensal |
Produção de biodiesel | ANP | Mensal |
Exportações de óleo/farelo | SECEX / MDIC | Mensal |
Prêmios internos e externos | Corretoras / plataformas privadas | Semanal |
A partir desses dados, é possível calcular uma estimativa de oilshare Brasil com a seguinte fórmula:
Oilshare (%) = [Receita estimada do óleo ÷ Receita total do esmagamento] × 100
Impactos na Matriz Produtiva e Comercial
Essas mudanças provocaram um aumento expressivo no consumo interno de óleo de soja, tanto no Brasil quanto nos EUA. O resultado?
Redução da disponibilidade para exportação.
Valorização do produto no mercado doméstico.
Aumento dos prêmios pagos internamente, mesmo que de forma silenciosa.
Segundo projeções da StoneX, o consumo de óleo de soja para biodiesel no Brasil deve crescer 10,3% em relação a 2024, com participação superior a 85% na matriz de insumos para biodiesel.
Riscos e Volatilidade
Nos EUA, a substituição do crédito fixo de US$ 1 por galão (40A) pelo crédito progressivo 45Z, baseado na intensidade de carbono, reduziu a competitividade do óleo de soja como insumo para diesel de biomassa. Essa mudança já provocou queda na produção e na demanda, evidenciando o impacto direto das políticas públicas sobre o mercado.
Ferramentas de Proteção
Com a valorização e a volatilidade do óleo de soja, surgiram contratos futuros e opções de ações específicas para esse produto. Essas ferramentas permitem que produtores, processadores e investidores negociem diretamente a contribuição do óleo para o valor da soja, oferecendo proteção contra oscilações de preço e maior precisão nas decisões de mercado.
Conclusão
O óleo de soja deixou de ser coadjuvante e assumiu papel central na transição energética. A nova dinâmica de consumo interno, impulsionada por políticas de biocombustíveis, está redesenhando a lógica de produção e exportação da soja.
Entender essa transformação é essencial para quem atua no agronegócio e quer se posicionar estrategicamente em um mercado cada vez mais complexo e interconectado.
O mercado está mudando — e quem acompanha essa transformação com dados e visão estratégica sai na frente. Acompanhe a RGA para mais análises como esta.
Créditos deste artigo: Rio Grande Agricola e Open Markets - Clique aqui para ir ao artigo do CME Group
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